Fluorose Dentária

Fluorose Dentária: O que é, Causas, Identificação, Graus, Tratamentos e Prevenção

A fluorose dentária é uma condição odontológica que afeta a estrutura e a aparência dos dentes, causada pelo excesso de flúor durante o período de formação dentária.

Embora o flúor seja fundamental para a prevenção da cárie dentária e fortalecimento dos dentes, a ingestão em excesso pode levar à fluorose, resultando em manchas e descolorações no esmalte.

Neste artigo, abordaremos detalhadamente a fluorose dentária, desde suas causas até os tratamentos disponíveis e medidas de prevenção.

O que é Fluorose Dentária?

Uso de Fluoretos na Odontologia
Fonte:https://www.ident.com.br/rodrigo_of/artigo/218-fluorose-dentaria

A fluorose dentária ocorre durante o período de formação dos dentes, conhecido como odontogênese, que tem início antes do nascimento e continua até por volta dos 8 anos de idade.

Durante esse período, os dentes estão em desenvolvimento, e o flúor ingerido pode ser incorporado à estrutura do esmalte dentário.

O desenvolvimento dos dentes ocorre em diferentes estágios, e o período de risco para o desenvolvimento da fluorose dentária está relacionado com a formação do esmalte dentário e as etapas pelas quais ele passa até a erupção na boca. Sendo as etapas:

  1. Secreção da matriz: Nesta fase, o esmalte dentário começa a ser formado pelos ameloblastos, que são células especializadas na produção do esmalte. Os ameloblastos depositam minerais, como hidroxiapatita, na matriz orgânica, criando a estrutura do esmalte. Durante essa etapa, o flúor ingerido pode ser incorporado à matriz do esmalte, substituindo íons hidroxila e formando a fluoroapatita.
  2. Maturação pré-eruptiva: O esmalte continua a adquirir fluídos minerais dos tecidos adjacentes até pouco antes da erupção do dente na boca. Nesta fase, aproximadamente 35% da ingestão mineral na metade externa do esmalte ocorre. Isso significa que o flúor presente no organismo pode ser absorvido pelo esmalte em formação e influenciar sua composição mineral.
  3. Adição pós-eruptiva: Após a erupção do dente na boca, a superfície do esmalte fica exposta à saliva. A saliva contém íons de flúor, e a deposição de minerais pelo flúor presente na saliva continua a ocorrer após a erupção do dente. Esse processo ajuda a fortalecer o esmalte e torná-lo mais resistente à desmineralização causada pelas bactérias da placa bacteriana.

O período de risco para o desenvolvimento da fluorose dentária é especialmente durante a formação da coroa dentária, quando os ameloblastos estão depositando a matriz do esmalte.

Nessa fase, se houver excesso de flúor ingerido, ele pode ser incorporado em quantidades maiores do que o necessário na estrutura do esmalte, resultando em manchas e descolorações nos dentes permanentes.

A quantidade adequada de flúor durante a odontogênese é fundamental para garantir a formação de um esmalte dentário resistente e saudável, protegendo os dentes contra o ataque ácido das bactérias e prevenindo a cárie dentária.

Causas da Fluorose Dentária

Os principais fatores de risco para o desenvolvimento de fluorose dentária estão relacionados à exposição excessiva ao flúor durante o período de formação dos dentes (odontogênese). Confira abaixo os principais fatores:

  • Presença de flúor em teores acima do recomendado nas águas de abastecimento: A fluoretação artificial ou natural da água é uma medida de saúde pública reconhecida como eficaz na prevenção da cárie dentária. No entanto, em algumas regiões, pode ocorrer um excesso de flúor na água, seja por falhas no controle da dosagem ou pela presença natural de altos teores de flúor no solo. Essa exposição excessiva pode levar à incorporação de quantidades maiores de flúor na matriz do esmalte dentário durante a formação dos dentes, aumentando o risco de fluorose dentária.
  • Uso concomitante de duas ou mais formas de ingestão de flúor (sistêmico): Além da água fluoretada, o flúor também está presente em outros produtos, como alimentos, bebidas e suplementos. Quando uma pessoa ingere flúor de diferentes fontes ao mesmo tempo, pode ocorrer uma sobrecarga de flúor no organismo, principalmente durante a odontogênese, resultando em uma maior incorporação de flúor no esmalte dentário e maior risco de desenvolvimento de fluorose.
  • Ingestão de creme dental na fase de formação dentária em locais com água fluoretada: A ingestão acidental de creme dental com flúor por crianças pequenas é uma preocupação, especialmente em áreas com água fluoretada. Crianças muito jovens ainda não têm a capacidade de cuspir completamente o creme dental durante a escovação, e a ingestão frequente de flúor presente no creme dental pode contribuir para a fluorose dentária.
  • Ausência de sistema de vigilância dos teores de flúor nas águas de abastecimento e minerais embaladas: A falta de monitoramento dos teores de flúor na água de abastecimento e em produtos minerais embalados pode levar a variações na quantidade de flúor ingerido pela população. A ausência de um sistema de vigilância adequado pode resultar em exposições excessivas e riscos de fluorose dentária.
  • Uso abusivo de formas tópicas de aplicação do flúor (ocorrendo ingestão) em locais com uso sistêmico de flúor: Em algumas situações, pode ocorrer o uso excessivo de produtos de higiene bucal com flúor, como enxaguantes bucais ou géis fluoretados, em locais onde também existe a fluoretação da água. Essa combinação de uso sistêmico e tópico de flúor pode aumentar a ingestão total de flúor e aumentar o risco de fluorose dentária.

É essencial que os profissionais de saúde e a população estejam conscientes desses fatores de risco para a fluorose dentária e adotem medidas para controlar a exposição ao flúor durante o período crítico da formação dos dentes.

Identificação e Graus de Fluorose Dentária

A classificação da fluorose dentária, desenvolvida por H. Trendley Dean em 1934, é baseada em cinco graus que descrevem a severidade das alterações no esmalte dentário devido à exposição excessiva ao flúor durante a odontogênese. Esses graus são amplamente conhecidos como “os índices de Dean”:

  • Grau 0 (Ausência de Fluorose Dentária): Nesse grau, não há evidências visíveis de fluorose dentária. O esmalte apresenta sua aparência normal, sem descolorações ou manchas brancas.
  • Grau 1 (Questionável): O esmalte mostra pequena diferença com relação à translucidez normal do esmalte e que pode variar de poucas manchas esbranquiçadas a pontos ocaionais.
  • Grau 2 (Fluorose Muito Leve): Caracterizada por manchas esbranquiçadas opacas, difíceis de perceber, que podem estar presentes em alguns dentes. Geralmente, essas manchas são restritas a áreas limitadas do esmalte.
Fluorose Dentária
Imagens de diferentes graus de fluorose dentária
  • Grau 3 (Fluorose Leve): Nesse estágio, as manchas brancas são mais extensas e visíveis, podendo se fundir e afetar áreas maiores dos dentes. No grau 3, as manchas brancas ainda estão restritas ao esmalte.
  • Grau 4 (Fluorose Moderada): As manchas brancas se tornam mais pronunciadas e podem adquirir uma coloração amarelada ou marrom. Nesse estágio, as alterações no esmalte podem começar a afetar a dentina subjacente, tornando os dentes mais suscetíveis a desgaste e cáries.
  • Grau 5 (Fluorose Severa): Esse é o estágio mais grave da fluorose dentária. As manchas no esmalte se tornam escuras, porosas e podem cobrir uma grande área dos dentes. O esmalte pode se desgastar significativamente, causando deformidades nos dentes e tornando-os mais suscetíveis a danos.
Fluorose dentária
Imagens de diferentes graus de fluorose dentária

Tratamentos para Fluorose Dentária

O tratamento da fluorose dentária é realizado de acordo com a gravidade das manchas e alterações no esmalte dentário.

Existem diferentes abordagens que podem ser adotadas para melhorar a estética e a funcionalidade dos dentes afetados. Veja abaixo os principais tratamentos utilizados para cada grau de fluorose dentária:

  • Fluorose Muito Leve (Grau 1) e Fluorose Leve (Grau 2):
    • Microabrasão: É um procedimento não invasivo realizado por um dentista. Consiste na aplicação de ácido fosfórico suave sobre o esmalte para remover suavemente a camada superficial, onde se encontram as manchas brancas. O resultado é uma melhora significativa na aparência dos dentes.
    • Clareamento Dental: Em alguns casos, o clareamento dental pode ser eficaz para reduzir a intensidade das manchas brancas. O procedimento de clareamento envolve o uso de agentes clareadores que penetram nos poros do esmalte, diminuindo a visibilidade das manchas.
  • Fluorose Moderada (Grau 3):
    • Restaurações Estéticas: Para casos mais graves, quando as manchas são mais pronunciadas e o esmalte apresenta porosidades, o dentista pode recomendar restaurações estéticas, como facetas de porcelana ou resina. Essas restaurações são finas lâminas que são colocadas na superfície dos dentes, corrigindo deformidades e melhorando a estética.
  • Fluorose Severa (Grau 4):
    • Restaurações Estéticas Avançadas: Em casos extremos, com manchas escuras e porosidades profundas, pode ser necessária uma abordagem mais complexa de restaurações estéticas. Facetas de porcelana ou resina de maior espessura podem ser utilizadas para reconstruir a forma e a cor dos dentes afetados.
    • Coroas Dentárias: Em situações em que os dentes foram severamente danificados pela fluorose, o dentista pode optar pela colocação de coroas dentárias para restaurar sua forma e função. As coroas são capas protetoras que cobrem todo o dente, proporcionando uma aparência natural e duradoura.

Vale ressaltar que o tratamento da fluorose dentária deve ser sempre personalizado, levando em conta a condição dentária de cada paciente.

Prevenção da Fluorose Dentária

A prevenção da fluorose dentária é fundamental para evitar que os dentes desenvolvam manchas e alterações estruturais causadas pelo excesso de flúor durante a formação dentária.

Algumas medidas simples podem ser adotadas para reduzir os riscos de fluorose, especialmente em crianças, que são mais suscetíveis a essa condição. Abaixo estão as principais estratégias de prevenção da fluorose dentária:

  • Controle do Consumo de Flúor:
    • Supervisão na Escovação: É importante que os pais supervisionem a escovação dos dentes das crianças, garantindo que elas utilizem apenas uma quantidade adequada de creme dental com flúor. O recomendado é uma quantidade equivalente ao tamanho de um grão de arroz cru para crianças abaixo de 3 anos, e uma quantidade do tamanho de uma ervilha para crianças entre 3 e 6 anos. Instrua as crianças a cuspir o excesso de pasta dental após a escovação, mas evite que elas engulam o produto.
    • Produtos sem Flúor para Crianças: Para crianças muito jovens que ainda não aprenderam a cuspir adequadamente, é recomendado o uso de pastas dentais sem flúor ou com concentração muito baixa. Esses produtos podem ser igualmente eficazes na limpeza dos dentes, sem o risco de ingestão excessiva de flúor.
  • Controle da Água Fluoretada:
    • Verificação dos Níveis de Flúor: Em áreas onde a água é fluoretada, é importante verificar a concentração de flúor na água da região. A fluoretação da água é uma medida de saúde pública reconhecida, mas a concentração de flúor deve estar dentro dos limites recomendados pelas autoridades de saúde. Caso a água apresente níveis acima do recomendado, procure outras fontes de água para evitar a ingestão excessiva de flúor.
  • Supervisão Profissional:
    • Consultas Odontológicas Regulares: Realizar consultas odontológicas regulares é fundamental para a prevenção da fluorose dentária. O dentista pode avaliar o grau de risco de desenvolvimento da fluorose em cada paciente e fornecer orientações personalizadas sobre o uso de produtos com flúor, suplementos e outras medidas preventivas.
    • Uso Controlado de Suplementos de Flúor: Caso seja necessário utilizar suplementos de flúor, especialmente em áreas com baixo teor de flúor na água, é essencial que o uso seja prescrito e orientado pelo dentista ou profissional de saúde bucal. O controle da dose e a orientação correta são fundamentais para evitar a ingestão excessiva de flúor durante a formação dos dentes.

Conclusão

Em conclusão, a fluorose dentária é uma condição que pode afetar a estética e a integridade dos dentes devido ao excesso de flúor durante a formação dos dentes.

É essencial compreender que o flúor é uma substância benéfica em quantidades adequadas, pois fortalece o esmalte e protege contra a cárie dentária.

No entanto, quando há uma ingestão excessiva de flúor durante o período de odontogênese, podem surgir manchas, descolorações e mudanças estruturais nos dentes.

O acompanhamento regular com o dentista é essencial para monitorar a saúde bucal e avaliar possíveis sinais de fluorose dentária.

Com medidas preventivas adequadas e orientação profissional, é possível reduzir os riscos dessa condição e garantir um sorriso saudável e esteticamente agradável ao longo da vida.

Referências:

CALMON, Marcela Vieira. Fundamentos para Assistência Odontológica I. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018. 192 p.

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